Acho engraçada a forma como as pessoas reagem a términos de relacionamento. A gente sempre acha que depois da primeira desilusão amorosa nunca mais vai sentir aquilo. Até que vem o próximo, e o próximo, e o próximo. Quando se dá conta, já perdemos a conta de amores e desamores.
Cheguei a conclusão que
dor de término de namoro é como a dor do parto. Você tem certeza que não vai
aguentar. Tudo que mais deseja é muita, mas muita, morfina na veia pra suportar
aquelas pontadas que parecem que vão te destruir por dentro. Surpreendentemente,
com o tempo, se esquece da dor. Até que, de repente, vem o próximo filho da puta (no caso da
dor do parto apenas “filho”) e você sente de novo uma dor absurda (e é claro,
como se fosse a primeira vez).
A verdade é que término
de namoro é sempre complicado. E, se não estiver tão complicado, a gente tem o
prazer de complicar. No fundo, término de namoro dá muito pano pra manga. E,
inegavelmente, nós, seres humanos, mortais, malucos, curtimos essa novela.
“Coitado de mim, levei um pé na bunda”. “Coitado de mim, dei um pé na
bunda”. "Coitado de mim, tive que dar um pé na bunda porque nem pra isso aquele imbecil serve". Nunca ninguém está satisfeito.
Quando nós terminamos,
questionamos se estamos fazendo a coisa certa. Somos taxados de destruidores de
coração, egoístas, burros e vamos terminar sozinhos por causa disso.
Quando somos terminados,
o mundo cai, o orgulho fere, o cotovelo dói. Somos coitadinhos e merecemos
alguém melhor. Vamos dar a volta por cima e encontrar um bonzinho que nos faça
bem.
Mas é inquestionável que
pé na bunda é o que há pra quem está afim de curtir aquela fossa. Coloque uma
musica da Adele no Ipod. Tranque a porta do quarto. Fique no escuro. Não atenda
ninguém. Veja fotos antigas e corte os pulsos.
Aí pronto. Você está
fodido. Orgulho ferido, cotovelos machucados e pulsos cortados.
Mas não para por aí. Você
não quer passar de coitadinho. Se deixar derrotar? Jamais! Afinal você é muito
melhor do que ele.
Hora de ir para a
noitada. Você vai desenterrar as companhias da sua época de solteiro. Pronto.
Tudo combinado. Você e a galera hoje vão fazer história. Galerona maneira (você
não conhece nem a metade). Momento de perdição de linha, sequelação geral. Uma
caipirinha! Duas! Três! Tequila! Absinto! Bebida até que o seu fígado chegue ao
nível do seu coração.
Aí pronto. Os dois estão
destruídos. Você está fodido. Orgulho ferido, cotovelos machucados, pulsos
cortados, com um fígado que não funciona e nesse momento você já não lembra porque
estava naquela boate com o... com o... qual é mesmo o nome dele?
Mas não para por aí. Você
liga para a sua amiga completamente embriagada. Conta que pegou o fulano, mas
está se sentindo meio mal. Ela, que já estava quase dormindo, te aconselha:
"Amiga, ele é muito gato! Mandou bem. Não fica assim não. Fica bem e toma
uma bebida por mim. O beltrano morreria se soubesse que você ficou com
ele".
Momento de glória! Você
bebe mais e se força a gostar do beijo-mais-ou-menos que aquele gostosão está
te dando. Mais Vodka, cerveja, Red bull. Inevitavelmente aquela
música-nada-apropriada toca. Você chora escondido no banheiro por alguns
minutos. O sofrimento transforma-se em raivam e você, com sede de vingança,
volta para a pista para seu momento de "glória”.
Hora de acordar. Você
olha para o despertador. 15:00h. Cara de derrota. Dor de cabeça. Um balde de
sobreaviso ao lado da cama (vazio, pelo menos). Você não se lembra como e com
quem chegou em casa. Fica se questionando como foi parar na sua cama e como
suas roupas estavam espalhadas pelo chão.
Aí pronto. Coração e fígado
destruídos. Você está fodido (talvez, literalmente). Orgulho ferido, cotovelos
machucados, pulsos cortados, ressaca alcóolica e moral e, para completar, um
roxo enorme na perna que você não tem idéia de onde veio.
Você levanta da cama.
Toma um banho e um Engov. Comer, nem pensar! Resolve ver as fotos. Momento
“vergonha própria”. Mas você estava linda no início da noite. Hora de postar as fotos e comentários “entrelinhas” mais idiotas
para despertar a curiosidade do filho da puta do seu ex, que não teve
coragem de deletar do seu facebook. Você, hipocritamente, escreve
de um jeito obvio que ficou com aquele cara na noite anterior, dizendo “eu não
sabia que dava para perceber”.
Seu telefone apita.
Mensagem de texto. Você corre ao telefone esperando que fosse alguém capaz de
te contar e rir da noite anterior. E você lê “Eu amei ontem a nossa noite. Não
devia ter te ligado bêbado para nos encontrarmos. Mas é que eu não aguentei de
saudade. Sei que você ficou com outra pessoa antes. Não precisava ter mentido
pra mim. Eu entendo você querer ficar com outras pessoas. Eu também já fiquei.
Sem ressentimentos. Sei que se for para ficarmos juntos, nós vamos ficar. Nos
vemos por aí. ;)” .
Aí pronto. Coração e fígado
destruídos. Você está fodido. Orgulho ferido, cotovelos
machucados, pulsos cortados, ressaca alcóolica e moral, um roxo enorme na perna
que você não tem idéia de onde veio. Se sentindo uma fracassada. Tomada pelo
ódio mortal daquele babaca que se aproveitou de você quando você estava bêbada
e te mandou uma conversa fiada por mensagem de texto. Com mais ódio ainda
daquela carinha feliz que ele mandou no fim da mensagem. Quem ele está pensando
que é?
Você chora de dor, raiva, amor e ódio. Você tem a
certeza de que aquela dor nunca vai passar. Mas vai. Sempre
passa.